Nas ultimas três semanas de vida nem parecias o mesmo, estava habituada a ver-te com força e energia, habituada a sentares-te a mesa e comeres com satisfação, habituada a me defenderes mesmo sabendo que eu não estava a ter uma atitude muito correcta, habituada a ver-te sempre a viajar, habituada a ter-te na minha vida...
Mas a doença, essa puta, fez-te enfraquecer, a deixar de comer aos poucos que levou a quase no fim só conseguires ingerir líquidos, a perderes força no corpo e, pior, a deixares de ter vida.
Sei que muitas vezes te sentias um estorvo, sentias que nós ficamos furiosos por ter de te ajudar a comer, a levantar, a deitar e a vestir, mas eu juro, juro por tudo, que nunca foste um estorvo. Todos gostávamos (gostamos e iremos gostar!) muito de ti.
Na manha do dia 15 acordei com a minha mãe a pedir para ir ter contigo porque estavas muito fraquinho e pedias beijinhos a todos. Perguntavas por mim e eu, num constante acto de egoísmo, estava a dormir. Não me viste mais, não voltas-te a ver a tua menina dos cabelos loiros, perdoa-me, perdoa-me por isso.
Sinto muito a tua falta avô mas tenho de te deixar partir em paz, eu sei que tu sabias que todos nós fizemos os possíveis e que também sabias que há muita coisa fora do nosso controlo.
Pela primeira vez pus em causa o ser ou não ser médica, não sei se tenho estofo para aguentar ter todos os dias pessoas a morrer nas minhas mãos sem puder fazer nada, sem puder contracenar numa cena que não é a minha. Eu sei que todos tem muito orgulho em mim e que me apoiarão sempre em tudo, inclusive tu.
Nunca esquecerei os momentos que passamos juntos, as fotos, as férias, as festas, o ultimo beijo que te dei!
Não fui capaz de dizer no dia do teu funeral, mas direi agora...
Até sempre.
2 comentários:
os meus sentimentos toma um beijinho*
Ele estará a olha por ti*
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